Discriminação racial e saúde: uma revisão sistemática de escalas com foco em suas propriedades psicométricas

A literatura abordando o uso da variável raça no estudo de causas das iniqüidades raciais em saúde é caracterizada por uma profunda discussão sobre os problemas envolvidos na interpretação de associações estatísticas como relações de causa e efeito. Em contrapartida, um número menor de estudos tem abordado o uso de escalas de discriminação racial para estimar os efeitos deste tipo de tratamento injusto sobre a saúde, e nenhum deles realizou uma avaliação abrangente das propriedades psicométricas destes instrumentos. O objetivo deste trabalho foi revisar sistematicamente a literatura sobre escalas de discriminação racial, com vistas a descrever seus processos de desenvolvimento e prover uma síntese de suas propriedades psicométricas. Uma busca eletrônica nas bases de dados PubMed, LILACS, PsycInfo, Scielo, Scopus e Web of Science foi realizada sem qualquer restrição, utilizando-se vocabulário livre e controlado. Após identificar 3.060 referências, 24 escalas foram incluídas na revisão. Apesar de a discriminação racial constituir um tema de relevância internacional, 23 (96%) escalas foram desenvolvidas nos Estados Unidos. A maior parte dos estudos (67%, N = 16) foi publicada nos últimos 12 anos, documentando tentativas iniciais de desenvolvimento de escalas, com uma escassez de investigações sobre o refinamento ou a adaptação trans-cultural destes instrumentos. As propriedades psicométricas relatadas foram boas; dezesseis entre todas as escalas apresentaram confiabilidade acima de 0,7, 19 entre 20 instrumentos confirmaram, pelo menos, 75% das hipóteses relacionadas aos construtos avaliados e a estrutura dimensional foi corroborada por análises fatoriais em 17 de 21 escalas. Entretanto, pesquisadores independentes raramente examinaram estas escalas. O uso de terminologia racial e como isto pode afetar o relato de experiências de discriminação racial não foi extensamente avaliado. A necessidade de considerar outras formas de tratamento discriminatório como exposições danosas à saúde igualmente importantes e a idéia de um instrumento universal, adaptável a diferentes contextos socioculturais, deveriam ser discutidas entre os pesquisadores deste emergente campo de investigação.

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